A REALIDADE CONSTRUÍDA

Cristina PanellaColunas, Newsletters Deixe um Comentário

Publicações BMI – Blue Institute Management (janeiro 2018)

Como compreender – sociologicamente – o comportamento dos indivíduos em sociedade, seja em uma organização empresarial ou em um estádio de futebol? Como escolher entre a visão de cada indivíduo pautada pela psicologia e a orientada pela sociologia? Há que escolher?

Do ponto de vista das ciências humanas, não. É importante recuperar o objetivo holístico e compreensivo das ciências, indo além das especificidades dos especialistas.

Uma subdisciplina sociológica, inaugurada por Karl Mannheim e conhecida como Sociologia do Conhecimento, originalmente teve por foco a história das ideias. Mas na segunda metade do século XX, o campo foi redefinido por Peter Berger e Thomas Luckmann (1) , em obra que se tornou uma referência nas Ciências Sociais. Para os autores, o problema da construção social da realidade é explorado a partir dos alicerces do conhecimento na vida quotidiana.

De forma simplificada, os autores apresentam a sociedade como realidade objetiva e realidade subjetiva. Na realidade objetiva assume importância cada vez maior a institucionalização e legitimação por meio da organização social. Já na realidade subjetiva, destacam-se a interiorização da realidade por meio da socialização e a identidade no âmbito da estrutura social, construindo, dessa forma, uma ponte teórica para os problemas da Psicologia Social.

Somente esse postulado inicial já suscita inúmeros desenvolvimentos na análise da vida social. A dupla inserção social, subjacente à dupla inserção das esferas cognitiva e econômica, que sustentam o conceito de co-construção da significação(2) desenvolvido em minha tese de doutorado, propicia uma abordagem poderosa para o entendimento da visão dos comportamentos humanos em diferentes dimensões, a partir de uma linha contínua que anula a segmentação da vida entre as esferas “individual” e “social”.

Quando analisamos as organizações e, mais particularmente, sua cultura, esta dupla inserção leva à adoção de dois eixos de análise: o primeiro eixo porta sobre os elementos socioeconômicos das organizações, que intervêm tanto na construção dos discursos que expressam a cultura organizacional como nas diferentes leituras que deles fazem os indivíduos. O segundo eixo de análise está centralizado nos mecanismos socioculturais constroem a identidade dos indivíduos.

Ambos os eixos podem e devem ser objeto de análises aprofundadas, buscando a compreensão da expressão da natureza individual quando em situações de coletivo social assim como do poder do discurso organizacional que procura articular a identidade das empresas ou instituições e a sua legitimidade junto aos seus públicos.

(1) BERGER L., Peter e LUCKMANN, Thomas – A Construção Social da Realidade, São Paulo, Vozes, 17ª. Edição, 1985 (91a. edição em inglês, N.York, 1966).
(2) Conceito apresentado e desenvolvido em minha tese de Doutorado – PANELLA, Ma. Cristina L.: “Criadores e Públicos à obra: a comunicação publicitária, uma co-construção – Análise comparativa da publicidade em outdoor na França e no Brasil”, Tese de doutoramento em Sociologia, E.H.E.S.S. – École des Hautes Études em Sciences Sociales, defendida em 1991

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Cristina Panella é Consultora Associada Senior BMI Blue Management Institute

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