O Líder na Crise: Ética da Sobrevivência e do Compromisso

Cristina PanellaNewsletters Deixe um Comentário

Esse é o tempo da Ética da Sobrevivência e do Compromisso

Profissionais em administração e gerenciamento de crises existem. E são, tecnicamente, muito bons.

Também há bibliografias especializadas onde algumas técnicas são elencadas. No entanto, o impacto e as formas de gerenciar uma crise não podem ficar circunscritos ao âmbito da empresa ou organização. Por um lado, o impacto depende, intrinsicamente, do setor de atuação da empresa que embute riscos específicos em função do tipo de produto ou serviço que oferece. Por outro, do contexto econômico-social em que a crise acontece, contexto esse que deve ser tomado em conta por constituir a vivência cotidiana de seus colaboradores .

Quase se tornou um mantra dizer que uma das características fundamentais de uma crise é que ela tem começo meio e fim. Mas a crise provocada pela pandemia não é percebida dessa forma, porque atinge a população em geral e não somente os stakeholders de uma empresa. Nessa crise, o “meio” tem-se prolongado uma vez que as soluções para o seu enfrentamento, dada sua dimensão, são necessariamente demoradas. Assim, a extensão e duração dessa crise que vivemos em função da pandemia implica deixarmos de lado a simples postura de alerta e reações imediatas para nos concentrarmos nas modificações inevitáveis que já estão em curso nas relações da empresa com seus os colaboradores, forma de trabalho e consumo. O impacto nas empresas é brutal e, por vezes, aponta até para a necessidade de remodelação, do propósito da empresa.

Outro aspecto importante é que nenhuma técnica ou instrumento do arsenal o administrador de crises prescinde de uma adaptação à cultura da empresa e ao seu propósito para ser colocado em prática e funcionar. Por essa razão, não é possível restringir aos profissionais de áreas técnicas ou de comunicação o gerenciamento da crise. A equipe de RH e, claro, o líder, são personagens fundamentais do comitê de crise.

Outras epidemias aconteceram no mundo. Quando acontece em outro país, consideramos que é problema deles. Mas quando os governos começam a fechar aeroportos, por exemplo, o problema começa a ser nosso, quer você trabalhe como autônomo ou como presidente de uma multinacional, porque seus clientes estarão em pânico.
Laurence Barton, grande especialista e consultor em gestão de crises que foi executivo da Motorola, lembra ainda que quaisquer medidas devem ser tomadas o mais cedo possível, antes que milhares de outros negócios compitam pelos mesmos recursos, como aconteceu com o crédito para pequenas empresas no Brasil.
Na organização da resposta à crise, é importante definir quem deverá ser responsável para cada um dos desafios e tarefas em sua organização. Dentre várias recomendações de Barton ao líder, destaco:
=> Identifique quem será o “dono” da comunicação dos fatos relevantes (breaking news) sobre as questões de saúde para que haja um único canal de comunicação, evitando contradições;
=> Identifique um líder que comunicará o plano da empresa para os colaboradores, encorajando as pessoas a trabalhar em/de casa. Determine como será dado suporte para o trabalho em casa e como as necessidades dos clientes serão atendidas.
=> Nomeie um gerente de conteúdo para a Intranet e para o Website de forma a comunicar simultaneamente ao público em geral e aos seus colaboradores os detalhes sobre o plano de sua empresa (incluindo o plano de retomada)
=> Organize frequentes conference calls com as diferentes áreas da empresa para updates, novos projetos e para comunicar o que está sendo feito para a volta ao trabalho
=> Prepare um plano de sucessão para as pessoas -chave da organização
=> Atualize o endereço residencial, celular, e telefones de emergência para cada colaborador, parceiro, fornecedor e assegure-se que vários líderes tenham acesso a essa base de dados

Fica claro que não existe um líder DA crise. Existe um líder NA crise. Qual deverá ser sua essência, o seu papel, suas competências? Às dimensões do modelo de liderança essencial, definidas por Daniel Mota (transformação organizacional, essência individual e excelência de pessoas), propomos agregar comportamentos que podem tornar-se perenes. São eles: a transformação da consciência, o engajamento (ou compromisso) do líder (commitement), a solidariedade e empatia. Nunca as lideranças e as empresas precisaram estar tão próximas das necessidades – tangíveis (equipamentos, epis, …) e intangíveis (cuidado com a saúde mental, monitoramento dos familiares, entre outras de seus colaboradores). E também atentos à população de seu entorno, sua cidade, participando a quaisquer esforços – seja privilegiando fornecedores do bairro, seja estimulando seus colaboradores a contribuir com o próximo ou aportando ajuda financeira aos necessitados.
No momento que vivemos, cabe ao líder, antes de mais nada, liderar ideias e trazer, sempre a inspiração que brota da certeza da luz no fim do túnel. As ações concretas já contarão com os responsáveis pelas áreas. Mas solidariedade, compromisso e consciência não se delegam.

Esse é o tempo da Ética da Sobrevivência e do Compromisso

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Laurence Barton – Crisis Leadership now- A real-world guide to preparing for threats, disaster sabotage, and scandal – McGraw Hill, 2008

Daniel Mota – A Liderança Essencial – BMI Editora Virgilae, 2014

Artigo publicado originalmente em fevereiro de 2021

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