Correndo o risco de confessar a idade que tenho – o que, em si, é somente mais um indicador e, portanto, não me traz problema algum além de, pelo contrário, permitir dimensionar os valores intangíveis de minha vida, quero trazer à lembrança o estado de absoluto êxtase experimentado no início do meus anos escolares, momento legítimo para gastar (investir?) em novos materiais, cadernos, fichários e, claro, toda a panóplia de canetas coloridas e lápis de cor.
Tenho a convicção – embora nunca tenha feito ou visto uma pesquisa a respeito – que esse gosto foi compartilhado por muitos: pelos mais velhos que sonharam em um dia ter uma papelaria e, com certeza, pelos mais novos. Em relação a estes últimos, mudou somente a caixa, hoje apresentada muitas vezes sob a vestimenta dos celulares, smartphones e afins.De comum, somente a certeza que, de posse de tal instrumento, seremos pessoas mais eficazes, mais organizadas, verdadeiros profissionais com conteúdo e design.
Também no domínio da pesquisa, tal fascínio está presente. Relatórios cada vez mais elegantes do ponto de vista da diagramação, cores adotadas e animações sofisticadas, além do recurso popularizado aos softwares gráficos, obtêm uma receptividade bastante grande entre executivos de comunicação, contratantes dos trabalhos de pesquisa. Constamos, no entanto, que a sofisticação alcançada no design adotado é proporcional à diminuição do conteúdo explícito. Quantas vezes você não recuperou o documento utilizado para a apresentação dos resultados do ano anterior pelo seu parceiro de pesquisa e experimentou dificuldades em relembrar-se das relações e conclusões apresentadas? Quantas vezes teve dificuldade em localizar (quando conseguiu), os critérios utilizados na amostra ou mesmo a data de coleta dos dados que deu origem ao documento?
Mais grave ainda: quantas vezes você – isentando-se da responsabilidade de compreender mais profundamente as implicações das técnicas adotadas – optou por um profissional ou uma empresa em detrimento de outra em função dos softwares utilizados por ela, cada vez mais sofisticados e que prometem entregar ao simples toque (hoje cliques) de alguns botões na tela resultados analíticos poderosos a partir dos dados coletados? Se isso já aconteceu com você, não se preocupe, é fato comum. Executivos costumam sucumbir ante relatórios gráficos produzidos a partir de procedimentos complexos, cuja mecânica subjacente raramente é explicada em linguagem clara e objetiva..
Nao troque o artista pela ferramenta!
Marx afirmava que a diferença entre homens e animais reside na capacidade que temos de antever uma cadeira, imaginá-la em suas várias dimensões, promover alterações em seu desenho antes de construí-la. Esse é o poder da inteligência: o de abrir um campo de horizontes infinitos e, a partir dos dados obtidos na realidade, criar.
Ao seu lado, é necessário portanto ter um profissional cuja expertise o complemente e não que o substitua. Por essa razão, propostas de diferentes parceiros devem ser comparadas em função da inteligência – fator humano por excelência – que mobilizam em sua execução. Sua missão,diferentemente daquela da empresa contratada, é de desenvolver estratégias e ações construídas, em parte, a partir do conhecimento produzido pela pesquisa. Por essa razão, nos casos mais complexos, examine a possibilidade de ter, ao seu lado, um consultor que – tomando sempre como ponto de partida suas necessidades e as de sua na comunicação dos resultados – mediará a relação com os diferentes fornecedores. A experiência desse profissional e o conhecimento que tem sobre as diferentes técnicas, contribuirá para que o prato apresentado à mesa corporativa tenha a inspiração dos chefs independentemente dos aparelhos sofisticados de que se dispõe no que denominamos “a cozinha da pesquisa”.
Afinal, é sempre bom lembrar que, para a maioria de nós, uma bela caixa de lápis de cor não nos transformou em grandes artistas.
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