Realidade e Análise: a responsabilidade do Pesquisador

Cristina PanellaColunas

A discussão sobre a validade ou a verdade contida ou revelada pelas pesquisas, volta sempre ao debate, sobretudo em ano eleitoral

Na realidade, a área denominada “Pesquisa de Mercado e Opinião” muitas vezes é vítima de seu próprio sucesso. Disseminada de tal forma no Brasil, principalmente a partir dos estudos sobre audiência, a pesquisa atingiu um patamar de notoriedade e de popularização altos, demonstrados na própria inclusão do nome de uma empresa – IBOPE – como verbete no dicionário.

Outra característica da Pesquisa, comum às ciências humanas e que contribui para a sua disseminação e acessibilidade é o fato de expressar-se em língua natural (por oposição à linguagem lógica da matemática): o uso do português torna acessível a análise à maior parte dos indivíduos que não precisa dispor de nenhum ferramental cognitivo especial para a leitura. É esse aspecto de fluidez e transparência dos resultados obtidos em uma pesquisa – que torna possível alcançar qualquer indivíduo letrado, porque são expressos em português – que reside a principal armadilha de nossa profissão: a falta de distinção entre o mundo real e o mundo analítico.

Tanto pesquisadores, quanto contratantes de pesquisa – os clientes – são, por vezes, vítimas dessa armadilha e estão convencidos de que uma descrição apurada e rigorosa da realidade a reproduzirá sem distorções. Indo além, propõem substituir a análise pela reprodução fidedigna da realidade. Muitos dos neófitos praticantes da chamada etnografia encontram-se nessa categoria (voltaremos a essa técnica em outro artigo).

Produzir conhecimento na área de Ciências Humanas é um processo durante o qual o pesquisador mergulha no mundo real para, utilizando técnicas diferenciadas, ultrapassar, de forma não linear, diferentes etapas em direção a um outro mundo, o da análise que de semelhança com o primeiro guardará, somente, conexões lógicas.

A primeira dessas etapas é a observação, cujo grau de proximidade com a realidade variará segundo o instrumento que se utiliza para colher a informação (o questionário sendo aquele que mais afasta da realidade por representar em si mesmo um filtro analítico, construído pelo pesquisador). Em seguida, trabalha-se a categorização (ou codificação), momento decisivo no qual a realidade toma a forma de nossas categorias e onde o dado se afasta ainda um pouco mais da realidade quando confinado a intervalos (ex: idade entre 20 e 25 anos). Nessa etapa já perdemos a variedade existente na realidade. Procede-se então à tabulação – contagem das respostas, obtendo-se a chamada frequência simples. Nesse momento, somente partes da realidade interessam: aquelas que representam uma determinada porcentagem, o que permite analisar a distribuição das respostas. Aparece, aqui a necessidade de descrever voltando a transformar os números em língua natural. A tentação de, após tanto trabalho, ater-se a essa etapa e comunicar esses dados sob forma de tabelas emprestando-lhe assim um caráter analítico – muito comum em função da facilidade de apresentação trazidas pelos softwares – deve ser evitada a qualquer custo, sob pena de abandonarmos a última e mais nobre das etapas: a interpretação.

É durante a interpretação que a realidade – agora analítica – reduzida, formatada, presa em conexões lógicas, revela seu poder explicativo. O resultado produzido não é, portanto, a reprodução da realidade por mais colorida que ela possa ser, mas sim uma proposta de inteligibilidade dessa realidade, com foco nas determinações e fatores influenciadores que explicam percepções, atitudes e comportamentos.

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Breve apresentação da Cristina Panella Planejamento e Pesquisa. Venha tomar um café para conversarmos sobre suas necessidades.


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